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O artista Moderno

“Ainda não vi sublinhado com bastante descaramento e sinceridade esse caráter primitivista da nossa época artística. Somos na realidade uns primitivos. E como todos os primitivos, realistas e estilizadores. A realização sincera da matéria afetiva e do subconsciente é nosso realismo. Pela imaginação deformadora e sintética somos estilizadores.

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Somos homens duma imaginação dominadora quase feroz. Inegável.

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Qual a obrigação do artista? Preparar obras imortais que irão colaborar na alegria das gerações futuras ou construir obras passageiras, mas pessoais em que as suas impulsões líricas se destaquem para os contemporâneos como um intenso, veemente grito de sinceridade? Há nessas duas estradas, numa a obrigação moral que nos (me) atormenta, noutra a coragem de realizar esteticamente a atualidade que seria ingrato quase infame desvirtuar, mascarar, em nome dum futuro terreno que não nos pertence. Deus nos atirou sobre a Terra para que vivêssemos o castigo da vida ou preparássemos a mentira da beleza para vidas porvindouras?

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Ninguém se aproxima de mim. Gritam de longe: Louco! Louco! Volto-me. Respondo: Loucos! Loucos! É engraçadíssimo. E termino finalmente achando em tudo um cômico profundo: na humanidade, em mim, na fadiga, na inquietação e na famigerada liberdade”.

Mário de Andrade

 

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